Lygia Fagundes Telles e o poder das palavras.

Esta semana tem circulado nas redes sociais um vídeo de um experimento realizado por uma professora e sua turma de crianças: durante um período de 60 dias os alunos foram divididos em dois grupos; um grupo falava palavras que transmitiam afeto e autoconfiança para um pote cheio de arroz cozido e o outro grupo transmitia palavras de desafeto para outro pote de arroz também cozido. O resultado foi surpreendente: o que recebeu palavras afetuosas manteve sua aparência intacta e clara e o outro pote que recebeu as palavras de desafeto e crítica, simplesmente apodreceu.
Esta experiência fez-me lembrar de um texto de Lygia Fagundes Telles, chamado “A Prova”. Compartilho-o com vocês. Vejam que bela metáfora utiliza e que reflexão nos coloca: o que dizemos aos outros? O que dizemos a nós mesmos? Com que água nos regamos?
A prova
Lygia Fagundes Telles
Estatísticas. Números. A civilização da tecnologia.
Então alguns cientistas – monges resolveram demons-
trar que existe alguma coisa imponderável que escapa
a esse materialismo que está fazendo o homem o mais
infeliz dos seres: num laboratório foram plantadas três
sementes em condições e circunstâncias absolutamente
iguais. Igual a terra, a iluminação e a água regada nos
três vasos onde foram colocadas as sementes trigêmeas.
Uma única diferença nesse tratamento: quando o cien-
tista-monge regava a terra do primeiro vaso, dizia em
voz alta palavras de fervor, esperança. Palavras de
amor:“Quero que você cresça bela e forte porque confio
em você, porque neste instante mesmo estou lhe dando
minha bênção do fundo do coração”... etecétera,etecétera.
Diante do segundo vaso, em silêncio e automaticamente
ele deixava cair a água. Mas quando chegava a vez do
terceiro vaso, ele só tinha palavras de hostilidade, desafeto:
“Você será uma plantinha anêmica, feia, não acredito na
sua sobrevivência, está me ouvindo? Não gosto de você!”
Ela ouviu. As outras também ouviram e sentiram a di-
ferença de tratamento: a semente bem-amada resultou
numa planta vigorosa e cheia de graça. A semente regada
com indiferença cresceu indiferente, sem a exuberância da
primeira. Quanto à semente rejeitada, esta virou uma plan-
tinha obscura, de caule entortado e folhas tímidas, a cabeça
pendida para o chão.
( do livro A Disciplina do Amor, Ed. Nova Fronteira,1980 )
Gostou? Compartilhe e deixe seus comentários.